Conta um conto

sábado, 10 de fevereiro de 2024

O segredo dos Luminares

 

Em um futuro distante, a humanidade abandonou a Terra por falta de recursos e o que sobrou de sua população habita uma gigantesca estação espacial chamada Celestial Horizon, em órbita ao redor de um sol longínquo com avançados laboratórios de pesquisa, instalações de produção de alimentos e módulos residenciais com vistas panorâmicas. Equipada com tecnologia de propulsão avançada, seu objetivo principal é estabelecer uma presença humana sustentável no cosmos.

A sociedade por sua vez é governada por inteligências artificiais avançadas conhecidas como os Preservadores, que obviamente pregam o raciocínio lógico e o pragmatismo, desencorajando qualquer espécie de emoção ou empatia. Eles doutrinam que ceder aos instintos humanos básicos foi o que causou a derrocada da civilização. Dessa forma, a grande maioria das pessoas se comporta como robôs orgânicos que obedecem sem questionar, acreditando que essa é a melhor alternativa para a própria sobrevivência.

Nesse contexto vive Elena Nova, uma cientista que analisa dados que foram preservados para serem transmitidos para futuras gerações. Sua rotina é bastante formal e repetitiva, assim como a de vários outros cidadãos do local. Em um desses dias aparentemente normais ela recebeu uma ligação de seu melhor amigo Plinio Ruiz, que trabalhava em um enorme setor monitorando possíveis sinais de vida em outros planetas, para realocar a população quando encontrassem um local apropriado.

A mensagem era de um planeta chamado Lumis, mas foi logo descartada pois o lugar em questão era formado basicamente de água, com exceção do seu núcleo que era uma gigantesca esfera de pedra.

Elena ficou intrigada e quis saber mais sobre a mensagem e quis investigar, mas os Preservadores a proibiram. Ela insistiu e continuou querendo saber mais. Os governantes, percebendo uma possível perturbação à ordem local, decidiram deixá-la ir para verificar de perto, sob a condição de que ela não revelasse as suas descobertas à população. Para garantir que ela não retornasse de sua viagem, sabotaram secretamente a nave da moça.



A nave partiu, mas quando estava prestes a fazer um pouso na superfície líquida, suas turbinas falharam e ela acabou afundando e ficando inconsciente durante esse processo.

Quando ela acordou percebeu que estava em uma espécie de enfermaria, sendo observada por estranhas criaturas humanoides com um corpo esverdeado e gelatinoso que emitiam uma estranha bioluminescência em constante movimento dentro de seus corpos translúcidos. Os pés tinham membranas entre os seus dedos, que permitiam que eles se movimentassem com grande velocidade em superfícies líquidas.

A cientista logo percebeu que aquela era a forma pela qual eles se comunicavam. Enquanto ficou enclausurada pelos mesmos, que a mantiveram numa espécie de cativeiro até decidir o que fazer com ela, foi estudando os padrões de luz complexos até compreender o que eles estavam dizendo e construir um dispositivo que permitisse uma comunicação entre as duas raças. Assim foi o primeiro contato dela com os Luminares, os curiosos habitantes daquele insólito planeta.


Aos poucos ela foi entendendo e ficando fascinada com toda a estrutura social que acontecia ali. Através de ventosas nas pontas de seus dedos eles conseguiam transmitir suas emoções com bastante clareza colocando as mãos na cabeça de seus interlocutores e assim se entendiam melhor, pois não havia a possibilidade de falha na compreensão através de palavras ou sons. Tudo acontecia de forma bastante orgânica e harmônica. Se alimentavam basicamente de algas e peixes processados em pílulas o que reduzia o tempo das refeições e permitia que eles produzissem mais, não dormiam porque não ficavam cansados, apenas faziam pequenas pausas para um descanso ocasional.

O núcleo do planeta era revestido por uma membrana viscosa que evitava a penetração de água e ao mesmo tempo filtrava o oxigênio para os seus habitantes. Sua cobertura também ajudava na camuflagem das cidades, evitando que os cidadãos fossem devorados por enormes predadores marinhos que circulavam pelas águas do planeta. Por sorte a nave de Elena foi avistada por um grupo de pescadores que estavam nas redondezas e conseguiram resgatá-la a tempo.

As cidades possuem uma arquitetura deslumbrante com suas estruturas elegantes e integradas a recifes de coral. Laboratórios de pesquisa subaquática, jardins bioluminescentes e um sistema único de transporte aquático avançado contribuem para a sua atmosfera única, tornando a mesma bastante impressionante.

Aprendeu também que eles possuem um vasto conhecimento sobre o universo e sua história. Eles compartilharam com ela a história de uma antiga civilização galáctica que libertou acidentalmente uma ameaça que agora é um perigo para todos: um polvo interdimensional chamado Bomus, uma criatura de proporções cósmicas que envolve planetas com os seus tentáculos contendo padrões iridescentes que se estendem por milhões de quilômetros e se alimenta de seus recursos, deixando para trás uma trilha de rochas etéreas. Esse colosso galáctico possui olhos cintilantes que refletem a luz das estrelas, conferindo-lhe uma aparência majestosa.


Ao saber disso ela obviamente ficou bastante impressionada e assustada, pois aquele perigo iminente fez com que ela se sentisse bastante impotente. Essa era a mensagem de aviso que tinha sido interceptada e deletada pela estação onde ela morava. A melhor alternativa seria mandar uma mensagem encriptada pelo seu transmissor para o seu amigo, na esperança de que o seu amigo tomasse alguma providência a respeito.

O primeiro passo a ser tomado seria tentar traçar a localização do monstro e sua trajetória, o que foi possível através da avançada tecnologia dos Luminares. Em seguida procuraram por espécies que produzissem algum tipo de descarga elétrica como o poraquê na Terra.

Descobriram um tipo de serpente marinha chamada Syntrax e através de mais cálculos chegaram a um número suficiente para eletrocutar a ameaça assim que o mesmo ameaçasse envolver o planeta. A água salgada serviria como um potente condutor que ampliaria a descarga por toda a sua superfície.

Agora era só construir o maior capacitor possível para que o seu plano desse certo. Teve inicio então um processo que levou vários anos para ser construído. Felizmente a criatura levou bastante tempo para chegar porque acabou encontrando obstáculos imprevistos, como frotas interestelares que tentaram derrubá-lo e um buraco negro que quase o sugou.

Com a ajuda de seus novos amigos luminarianos ela conseguiu resgatar peças de sua nave que tinha caído num lugar um pouco distante e assim, depois de bastante tempo ela conseguiu terminar o seu projeto: com um núcleo de materiais exóticos, alcançou a capacidade de armazenar enormes quantidade de energia extraídas das serpentes. Sua carcaça externa, feita de um material altamente resistente, possui um painel de controle holográfico para ajuste da carga. Agora era só esperar.

Esperaram tanto tempo que chegaram a cogitar que o evento em questão só aconteceria depois de alguns milhares de anos, tendo em vista que a criatura se movia numa velocidade bastante vagarosa por causa do seu exacerbado tamanho. Até que um dia finalmente aconteceu.

Estavam todos cuidando de seus afazeres quando foram encobertos por uma enorme sombra que escureceu toda a cidade de Ullurya, onde Elena e seus amigos estavam.

A cientista correu o mais rápido que pode em direção ao dispositivo enquanto um guincho ensurdecedor reverberava pela água, causando desmoronamentos e gerando um pânico generalizado.

O capacitor demorou um tempo para ficar totalmente funcional e a moça estava bastante apreensiva, pois não estava tão confiante de que seu plano iria funcionar. Por fim o dispositivo emitiu uma onda elétrica que foi gradativamente se ampliando por causa da água marinha. O choque acabou sendo forte o bastante para repelir e assustar a criatura que, atordoada resolveu seguir em busca de um outro planeta para saciar a sua fome.

Os habitantes ficaram bastante felizes e eternamente agradecidos à humana, que decidiu ficar morando com eles. Agora só lhe restava aguardar que a mensagem tenha sido devidamente entregue e decifrada pelo seu amigo antes que fosse tarde demais. Sabia que a Celestial Horizon tinha um excelente sistema de defesa, mas será que seria o bastante? As dúvidas a assombravam, mas naquele momento ela não podia fazer nada. Pela primeira vez na vida e contra todas as probabilidades, tudo o que lhe restava agora era a fé.








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